Por: Avante, Diario Comunista, Portugal
Os serviços secretos norte-americanos e britânicos sabiam que o Iraque não detinha armas de destruição massiva (ADM), informação fornecida por dois altos quadros do regime de Saddam Hussein – alegadamente o então ministro dos Negócios Estrangeiros e o chefe da secreta iraquiana –, mas ignoraram-na propositadamente, afirma-se numa investigação levada a cabo pela BBC. Segundo a emissora, a CIA e o MI6 também não admitiram o facto em inquéritos posteriore
A posse de ADM foi o principal argumento dos EUA e Grã-Bretanha para desencadearem uma guerra contra o Iraque, cujo início cumpriu ontem dez anos. No balanço, o total de
vítimas do conflito variam consoante o critério e o objectivo dos estudos. A Universidade de Brown e o projecto Iraq Body Count, por exemplo, estimam que as vítimas civis entre Março de 2003 e Dezembro de 2011 oscilem entre as 110 e as 134 mil, mas ambos admitem ter usado padrões conservadores. A revista Lancet e a Opinion Research Business, por seu lado, elevam a cifra de mortos para entre os 650 mil e o milhão de seres humanos. Os refugiados já chegaram a ser cinco milhões num país de cerca de 26 milhões de habitantes.
Crime sem castigo
Entre a população iraquiana é difícil encontrar alguém que não tenha um familiar, um amigo ou um vizinho morto no conflito. Centenas de milhares ou foram vítimas de tortura ou conhecem quem o foi. Os crimes cometidos pelos ocupantes passaram impunes. A justiça é uma caricatura e as execuções por enforcamento ou as matanças realizadas por esquadrões de soldados e mercenários são a imagem do retrocesso civilizacional imposto.
Abu Grahib e Fallujah são nomes marcados pela crueldade . Nesta última cidade, a par da destruição dos mais elementares serviços e infraestruturas públicas (cenário aliás extensível ao resto do território), o uso por parte dos EUA de ADM contaminou todo o meio ambiente e provocou danos que perdurarão por gerações, como evidenciam o comprovado aumento exponencial de nasciturnos com malformações congénitas ou do número de doentes oncológicos.
O Iraque é hoje um dos países mais corruptos do mundo, sorvedouro de recursos próprios e dos chamados fundos para a reconstrução. A corrupção e compadrio nos negócios é a base da cadeia de domínio que permite a Nuri Al-Maliki conservar-se, desde 2006, na liderança de um poder repartido por facções que esgrimem argumentos com violência, de aparente motivação confessional, mas, na realidade, expressão da luta por acumulação de riqueza.
Nos últimos anos, o Iraque, um dos possuidores das maiores reservas de hidrocarbonetos do mundo, pagou 30 mil milhões de dólares a título de importações de combustíveis. Na capital, Bagdad, o número médio de horas em que é possível ter energia eléctrica ronda as seis por dia.
Custo insuportável
No ponto mais crítico da guerra os invasores chegaram a ter 200 mil homens no terreno, fora seguranças privados. Os EUA são o país mais envolvido entre 40 nações que enviaram contingentes para a ocupação.
Não é por isso de estranhar que acumulem o maior número de baixas, calculadas, oficialmente, em Dezembro de 2011, em 4487. Acrescem mais de 32 mil feridos graves e estropiados, número que não inclui as centenas de milhares de militares que sofreram perturbações psicológicas, muitas das quais igualmente incapacitantes, como admite o insuspeito Stars and Stripes (estrelas e riscas), que citou recentemente dados do Departamento de Assuntos de Veteranos do Pentágono.
O custo total da guerra para os EUA é difícil de apurar, mas um valor a rondar os dois triliões de dólares é o mais admitido, cifra que pode triplicar nas próximas décadas com os pagamentos de pensões e tratamentos aos veteranos, cujos pedidos de assistência ao Estado superam o observado após as guerras da Coreia e Vietname.
A estes, soma-se o custo da arbitrariedade das autoridades dos EUA no seu próprio território. Ainda no passado dia 15, um tribunal federal declarou inconstitucional a cláusula que permite ao FBI obter informação privada de «suspeitos de terrorismo» sem necessidade de ordem judicial, e proibiu a emissão de novas «cartas de segurança nacional», prática reforçada pela entrada em vigor do «Acto Patriótico», promovido pela administração Bush e prolongado pelos gabinetes liderados por Barack Obama. Só em 2011, o FBI emitiu mais de 16500 «cartas de segurança nacional».
Por estes dias, em Guantanamo – a prisão que em Janeiro de 2009 Obama prometeu encerrar mas onde continuam a apodrecer dezenas de homens sem que lhes seja movida qualquer acusação – os presos levam a cabo uma greve de fome. Iniciado a 6 de Fevereiro, o protesto é o derradeiro recurso contra o incumprimento de regras mínimas de detenção, criticadas pelas Nações Unidas.
Quinta-feira da semana passada, 45 advogados de defesa dos encarcerados enviaram uma carta aberta ao novo secretário da Defesa dos EUA, Chuck Hagel, apelando a que tome medidas urgentes face ao perigo de vida que correm os presos, cujas denúncias de torturas são marca da barbárie imperialista que, há dez anos, no Iraque, inaugurou mais um trágico episódio.
Fuente: Avante/PrensaPopularSolidaria
Correo: pcvmirandasrp@gmail.com
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